Porta dos Fundos – Contrato Vitalício | “Vitalício” que rima com desperdício, malefício, orifício…

Humoristas consagrados no YouTube não conseguem adaptar-se às telonas. R$ 15,50 muito mal gastos em mais uma comédia nacional dispensável. 


Em agosto de 2012 era lançado no YouTube o primeiro episódio do inovador projeto de humoristas brasileiros, o Porta dos Fundos. Em 15 minutos, apresentavam um programa dividido em esquetes, com um humor ácido, sem restrições para um mundo cada vez mais censurado pelo politicamente correto. O modelo rapidamente atingiu um grande público, e hoje, com mais de 12 milhões de inscritos, seus vídeos raramente não atingem 1 milhão de visualizações, e uma maior liberdade foi alcançada, juntamente com muitos processos por aqueles que não aguentam uma zoeira ou críticas nem sempre tão sutis.  Tamanho o sucesso, quatro anos depois, um espaço nas telonas seria inevitável, e o desafio do Porta tornou-se entreter um público acostumado com seu formato por mais de 5 minutos. Eis que nos deparamos com “Contrato Vitalício”.

Com bons atores e humoristas melhores ainda, que envolvem nomes já conhecidos como Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Antonio Tabet e o próprio diretor Ian SBF, que já os dirigia anteriormente no YouTube – sem contar a fantástica divulgação do filme, que trouxe até o fenômeno Carreta Furacão em vídeo e um pôster à la Vingadores – era muito fácil encarar o longa de maneira positiva. Ledo engano.

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No filme, o diretor Miguel (Duvivier) e o ator Rodrigo (Porchat) estão em Cannes para uma famosa premiação de cinema, e inesperadamente recebem um prêmio, que os leva a comemorar na maior festança já vista pelos dois, resultando em uma embriaguez e um contrato vitalício assinado por Rodrigo, que dizia que o ator participaria de todos os filmes de Miguel. Após a incomum noite dos agora reconhecidos mundialmente, Miguel simplesmente desaparece após ir vomitar no banheiro. Dez anos se passam, Rodrigo, agora um consagrado ator, retorna à Cannes, desta vez como jurado, hospeda-se no mesmo hotel, mesmo quarto, e encontra um Miguel exatamente onde visto pela última vez,  barbudo, cabeludo, todo “largado”, que afirma ter sido abduzido por alienígenas no centro da terra. Tema este que serviria de roteiro para seu próximo filme, tendo Rodrigo como protagonista devido ao contrato da dupla. A trama absurda e nonsense aparentava ser mais um lapso genial do grupo, mas mostrou ao público resoluções preguiçosas e clichês que não funcionaram. Pra ser sincero, não ri uma única vez no filme, tampouco a plateia.

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A sensação que fica é de que os repetitivos palavrões ditos por Porchat e sua trupe tornam-se dispensáveis nos cinemas. A tentativa de trazer uma personagem blogueira e snapchater mostra-se atual, mas assim como um agente viciado em celular, uma preparadora de elenco rígida, um mendigo com problemas mentais e um colunista sensacionalista de revista de fofoca, extremamente banal e forçada. Nem participações especiais de Marília Gabriela, Xuxa e do Jovem Nerd salvam.

Devia ter me contentado em passar um domingo assistindo à Islândia, grande surpresa da Eurocopa 2016 ser derrotada pela dona da casa França. Ou ter dado continuidade à maratona de Breaking Bad com a namorada. Assim como o Porta dos Fundos devia contentar-se com suas brilhantes esquetes de até cinco minutos. Peço desculpas à namorada, à irmã e ao meu pai, por tê-los feito suportar 1h40 de mais uma comédia tosca, que alimenta o estereótipo de que o ótimo cinema brasileiro só possui porcarias dispensáveis em sua pasta.

Nota: 3/10

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